Um poeta deve ter dor
E dor onde ninguém saiba.
E deve sentir todas as dores e todos os amores que há no mundo.
Deve ter a escuridão, e deixar explodir todas as estrelas. Deve fazer nascer luz.
Deve entender de partos.
Um poeta tem que conhecer perfumes e odores.
Deve descrever sobre a Dolores e amar as suas dores.
Um poeta tem que ser forte e ardente.
Frágil e quente.
Um poeta tem que agir com a verdade, mesmo que para isso, use o fingimento.
Deve ser nobre como a beleza e plebeu como a tristeza.
Tem que usar das lágrimas para mostrar a alma.
E usar do sorriso para mostrar o destino.
Um poeta tem que salvar vidas, através da sua elegia ou da sua pornografia.
Tem que adorar o nada e o tudo.
Deve ser o próprio silêncio e ter em si todas as palavras.
Um poeta deve cortar os pulsos com flores e sobreviver com pedras.
Tem que andar no ritmo das correntezas dos rios e se escaldar nas areias como as ondas.
Deve saber observar o belo e entender o torpe.
Um poeta deve ver além do verde e do azul, tem que ver o cinza que há por trás de tudo.
Deve enxergar com as mãos e o coração e sentir com os olhos e abraçar com a alma.
Um poeta deve ter em si a eternidade e jamais ostentá-la.
Deve acariciar e bater com as suas palavras.
E deve ferir com o seu silêncio.
Um poeta deve saber chorar compulsivamente ao ver o sonho do outro quebrado, e gritar silenciosamente quando o seu sonho for derrubado.
Tem que transbordar os olhos de lágrimas, todos os dias, ao ler um poema, e alegrar-se profundamente ao nascer de qualquer semente.
Um poeta deve ferir-se com a insensibilidade e vangloriar-se com as raridades sensíveis.
Deve sentir os antepassados nos bosques e praças, e respeitar os seus espíritos.
Um poeta deve ver o sol nascer e nesse momento matar sua soberba.
Deve ver o sol se pôr e aguar o orgulho de si mesmo.
Um poeta tem que olhar nos olhos. Olhar simplesmente nos olhos; nem mais para baixo, nem mais para cima.
Deve proteger os apaixonados, mesmo aqueles enganados.
Um poeta tem que admirar os rituais e jamais julgá-lo.
Não precisa dançar o compasso da vida, mas deve entendê-lo.
Um poeta tem que saber que, as crianças e os velhos sabem mais que as suas rimas.
Deve gargalhar dos ecos.
Esbravejar das injustiças.
Um poeta tem que ser divinamente humano.
Compreender o divino, sentindo o humano.
Um poeta deve saber que não sabe. E ter consciência que entende.
Deve ser louco para que os deuses o proteja.
E deve ser lúcido para que o Deus o respeite.
Deve ter brilho no olhar e uma cor opaca nos lábios.
Dedos das mãos alongados e pés firmes.
E o poeta deve esquecer todas essas regras e ser simplesmente poeta.
Daniella Paula
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
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