sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Homens que amam demais

Eles estavam abraçados, entrelaçados em seus corpos grandiosos.
Fiquei a olhá-los. Belos como convém aos amantes.
Apaixonaram-se pelas barbas, pelos pêlos espessos, pelos excessos,pelas mãos cumpridas, pelos lugares apertados, pela necessidade de serem extravasados.
Apaixonaram-se pelo indescritível, pelo invisível e o indizível.
Apaixonaram-se porque se compreendiam; apaixonaram-se porque não entendiam.
Apaixonaram-se porque era o que sabiam fazer; apaixonaram-se porque não sabiam o risco a correr.
Apaixonaram-se porque ardiam, e porque nas suas rebeldias, traduziam a língua dos amantes quentes, e não decifravam as vadias dementes, tão pouco as mulheres ardentes.
Apaixonaram-se, pois, até a natureza é imperfeita, e o Deus erra e eles corrigem. E o Deus acerta e eles são as suas vertigens.
Apaixonaram-se porque é atrás que eles descobrem seus meios de andar para frente. E é no descansar dos peitos iguais que eles ficam em paz.
E agora, mortos como querem os imorais, entrelaçados como jamais gostariam os seus pais, nus e sem órgãos genitais... Descansarão em paz, nos seus eternos, fortes e agonizantes peitorais.
Esses homens amam demais.

Daniella Paula