segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Quando não sei o que sou...

Sou um buraco no plano
O pensamento fora do dono
A virgindade distante da moça
A pérola fora da ostra
Os desarranjos da natureza
A lagarta da borboleta
A fome dos desnutridos
O sangue dos vencidos
A ferida dos curandeiros
A dor de alma dos poetas
O órgão dos sentidos
A alegria dos desvalidos
O desafinar dos cantos dos pássaros
Os estardalhaços da alma
A vida dos fantasmas
A morte dos orgulhosos
Sou o que morre todos os dias, e renasce no despertar das flores.

Daniella Paula

domingo, 21 de setembro de 2008

Noite de desejo, retrato de uma denúncia

A noite estava escassa. Clamei-a e de repente ela surge nua.
Nua de corpo e alma, áurea limpa e pureza findam.
Com alguns colares no pescoço, cabelos soltos.
Olhar do avesso.
Ela surgiu para se entregar.
Somos dois mistérios. E dele queremos desfrutar.
Ela se insinuou, tocou os lábios, lambeu os dedos.
Sensibilidade aflorada...
Lua, tão feminina, querendo fazer amor com uma estrela, pois já não quer ser sozinha, quer alguém para chamar de minha.
Rasgou a saia, deixou-me tonta;
Quebrou as rédeas, aqui não conta.
Puxou meus cabelos.
Esfregou os seus.
Sussurrou as loucuras cálidas, das viúvas estagnadas, dos segredos das donas de casa, das brincadeiras enluaradas.
Mordeu o meu pescoço, percorreu o meu corpo.
Voltou para minha boca...
Molhou os seus lábios, fixou-se em meus olhos... Rendeu-se aos olhos.
Beijou-me o beijo suave, da boca fina, da pele sensível, da língua afiada.
Tocou os meus seios, fez deles esteios.
Brincou com meu umbigo.
Descobriu o meu intimo.
Lambeu as minhas pernas,
Desvendou o que tinha no meio delas.
Tão conhecido e tão desconhecido... Infinito!
Possuiu-me toda.
Entrou-se outra.
Bebeu do meu líquido. Deixou o seu em mim.
Entranhou as unhas nos meus poros.
Escorreu o seu suor tacanho.
Esbravejou seu gemido.
Cantou no meu ouvido...
Todo o seu desejo reprimido
Que ali foi proferido,
Diante ao mistério que não foi entendido.
Ela crua me abraçou. Depois chorou.
Voltaria para o seu marido.
Seu mundo fingido.
Longe dos seus delírios temidos.
Acabou-se o amor urgente
Que tanta gente, mente;
Que não sente.

Daniella Paula

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um [triz] de mim

Eu moro no pélago do mar
Tenho o lamento da ressaca dos mares
Vivo em confronto com os olhares, olhares perdidos diante do oceano.
Entro nos meus escombros, encontro-me com meus sonhos, que foram perdidos durante a viagem.
Invado as minhas lacunas e encontro os amores de outrora, prontos para florirem outros outonos. Flores murchas de outono...
Sopro os meus cabelos. Provoco os ventos.
Rodo a minha saia, viro capitu entocada.
Passeio no tempo, faço cinzas das horas.
Colho as sementes que não viraram frutos.
Recolho os estilhaços de pólvora das paixões frustradas.
Não tenho medo dos grandes raios, já que sou uma luz que cega.
Ouso amar tudo que me escapa.
Solto tudo que me prende.
Amo a liberdade como uma serpente, não como um pássaro; eles voam por não saber andar. Serpente ninguém doma, por não saber domar.
Na vida não tenho a pretensão de ensinar. Siga meus exemplos, somente os loucos que não têm medo de amar, nem do mar, nem do ar, nem de ser, nem de estar. Fujam de mim, todos os sensatos, os sociais, os imorais... Pouco me importa quem vá e quem ficará.
Nesse meu mar profundo, só há espaço para criar. Quer-se ser intocável, procure um rio para nadar.
Fuja para longe de mim, aqueles que têm medo de devorar.
Fique aqueles, cujo nome é amar e o sobrenome [do] ar.

Daniella Paula