sexta-feira, 28 de março de 2008

A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Fernando Pessoa.


Boa Noite Meninos, Boa Noite Meninas!
Demorei, mas aqui estou.
Como hoje o dia foi cheio de multidões para mim, até agora a pouco, postarei algo mais "só". Não que seja esse meu exato estado de espírito, porém, o meu desejo de alma de ficar "cá comigo mesma". AMO o calor humano, entretanto adoro o silêncio do corpo frio. Peço que não confudam com egoísmo, pois como já dizia Pascal O egoísta odeia a solidão.
Ficarei cá, não só comigo mesma, mas na companhia deliciosa e poética de vocês.
Aqui nós podemos ser...

Mãos a obra!

As pessoas fogem da solidão quando têm medo dos próprios pensamentos.
(E. Veríssimo)

Esse primeiro poema que postarei é de minha autoria. Desalinhos... Desalinhos... Desalinhos... Grito do Inconsciente. Nada mais que isso.
E não avaliem (como se isso fosse possível) a obra pelo autor, mas sim, pelo "eu-lírico" dela.
Espero que ao menos me julguem. =)

O meu número, a minha peça.

Esse é o meu número, a minha peça.
E eu não importo com a sua opinião.
Estou aqui rasgando os meus traços, porque estou cansada da minha imagem.
No momento estou enjoada da rotina de ser eu.
Então, quero que saiba que esse é o meu número e a minha peça.
Quero que vá para um lugar distante com a sua.
Porque aqui, o cenário é só meu.
Aqui, eu posso andar nua, posso fazer minha poesia, posso declamar meus versos, amar da minha forma, não importar, e importar quando preferir.
Aqui, eu posso roubar no jogo, porque o jogo é meu. E posso enganar, e posso brincar, e sorrir, chorar, e espernear, cantar, xingar, gozar, brindar, e fazer um monte mais de verbos no infinitivo. Mas o que eu mais gosto daqui, são os verbos no imperativo.
Bata-me, xinga-me, coma-me, rasga-me, beba-me, abraça-me, beija-me, cante-me.
Esse é o meu número, a minha peça.
Eu sou a protagonista e a diretora.
Então, pouco me importa, a sua hipócrita opinião.
Estou nesse momento gritando de dor... E ao mesmo tempo sorrindo do descompasso.
Porque eu não me importo com o seu compasso.
Tudo aqui é estardalhaço!
Fique com seu cabelo arrumado, pois o meu é desorganizado, tingido e avermelhado.
Deixe-me com as minhas unhas ruídas, elas mostram a minha personalidade, e fique com as suas fragilidades.
Não julgue meu quarto, ele não está desarrumado, a “arrumação” é relativa.
Deixa-me com a minha alegria inativa.
Porque esse é o meu número, a minha peça.
Pouco me importa que você se despesa.
Vá, fique com seus amores, que eu fico com as minhas paixões.
Fique com seus perdões, e com as minhas ilusões.
Faça seus padrões que os quebro em meu palco.
Construa sua multidão;
E eu ficarei aqui, com a minha doce forma de solidão.
Porque esse é o meu número, a minha peça.
Daniella Paula.

O próximo é de uma escritora chamada Oriza Martins, chama-se "Encontro Marcado". Tenho lido coisas surpreendentes dessa Senhora. E por mais que nesse poema, ela tenta protelar o encontro com a solidão e vê o mesmo como uma penosa obrigação, ela retrata lindamente esse encontro necessário. Espero que gostem...

Quero atrasar... demorar...
A este encontro faltar.
Gostaria de adiar
O momento implacável
De um encontro já marcado
Em pouco - ou nada - amável.
Talvez o ponto final,

A derradeira parada,
Epitáfio da esperança,
De minh’alma já cansada.
Talvez um céu sem estrelas,
Quiçá um jardim sem flores,
Onde o canto se faz mudo,
Mausoléu dos meus amores.

Como viver sem sentir
O esplendor da natureza
A tortura dos amantes,
Alegrias e tristeza?
E como passar meus dias
Distante dos beijos teus,
Sem nenhuma companhia
Amargando um adeus?
Assim, tento protelar
A penosa obrigação
De ir a este encontro...
Encontro com a... solidão.
Finalizaremos com quem melhor fala por mim: Clarice Lispetor.
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem das chuvas tempestivas
nem das grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.
Obrigada! Obrigadíssima! Obrigadinha!
E os agradecimentos de hoje vão aos que fizeram da noite de ontem e de hoje, belíssimas noites: Minha irmã de alma, de fé e de espírito Neiva; minha irmã de sangue, de amor e de cumplicidade Gi; Dona Irene, meu carinho em forma de gente, meu respeito, minha admiração; ao Vítor Medeiros que nos proporcinou ontem um êxtase sagrado, através da sua sensibilidade, seus poemas e sua voz; e em especial para o dia de hoje, ao meu irmão Israel, que está a completar seus 30 anos de vida digna, honrada e forte... Muito Obrigada meu irmão por nos dar exemplos tão cheios de base por 30 anos!
Obrigada a todos vocês que me enchem de carinho, amor e alegria.
Um beijo do tamanho da lua. Agradeço a companhia.
Fiquem com Deus, ao som das asas dos anjos!
Dani.

sábado, 22 de março de 2008

Bethânia!

Porque ela é uma espécie de força em minha vida.
Ela é a Rainha principal, do palco que mais respeito.
A entidade humana.
A sensibilidade divina para os profanos.
Os ventos mais fortes e arrebatadores de Iansã. As marés mais densas e suaves de Iemanjá.
As águas mais puras, das nascentes mais férteis de Oxum.
É o meu riso suave e verdadeiro ao vê-la.
É a inteligência.
Os bons ouvidos.
A vitória em forma de voz.
Ela canta a minha vida. Ela traduz meus pensamentos.
Bethânia faz parte de mim, não como uma fã e um ídolo, mas como um poeta apreciando a dor e o belo.
“Ela é tão eu que nos confundimos, salve Bethânia...”



Breve Biografia Poética:

A terça-feira do dia 18 de junho de 1946, era diferente. Desde manhã se sentia um gosto na boca de brisa quente, um perfume de flores do campo por toda parte, o dia tinha cor de frutas frescas, o céu estava azul como o mar, apontando em algumas nuvens sinais de tempestade, o mar estava caymmiano, ou seja, poético e vigoroso, e suas ondas anunciavam à área da praia a chegada de uma nova força a Terra.
Por volta das 16h Iansã sai das florestas africanas e vem ao Brasil, mais exatamente na Rua Conselheiro Saraiva, número 39, antiga Rua Direita, em Santo Amaro da Purificação, na sagrada Bahia, se preparar para trazer à terra brasileira o seu melhor vento, seu mais luminoso raio, a sua filha célebre, que tanto se parece com ela.
A Dona dos Raios e dos Ventos convida a todos os orixás para participarem da festa, festa sagrada. Tocam atabaques, Iemanjá canta no mar com suas ondas, Oxum enfeita o leito que vai receber a Pequena, e Nossa Senhora Aparecida vai até Dona Canô passar-lhe as mãos sobre a cabeça para acalmá-la das dores do parto.
Às 16h40min nasce a Estrela Maior.
Cujo nome, tão encantado nome, foi dado pelo o irmão Caetano. Inspirado em uma música. Dessa inspiração surgiu-se MARIA BETHÂNIA! Uma canção que se deu a mais bela voz.
A pequena sonhava com os palcos. E dizia que um dia estaria neles.
Sonhos nunca são em vãos. E a miúda entidade humana já tinha seus poderes de ver além.
Aos 13 anos “sobe” a um palco, em “off” ninguém a via, mas todos a sentiram; cantando a música: Cadência do Samba.
Descobriu-se ali.
O restante são as demais estrofes dessa história poética da nossa Maricotinha.
A substituição de Nara Leão, o Carcará, a forte personalidade, o novo conceito de beleza, os seus cabelos lindamente desarrumados, sua voz forte e guerreira, sua maneira de flutuar no palco, seus pés descalços, suas roupas brancas, sua fé, seus brasis, seus poemas, seu Ser arrebatador.
Uma predestinação em fazer os outros felizes. Em transmitir amor, paz e muita (muita) força.
A Rainha dos palcos. O deslumbre dos raios e a coragem das águas.
Ela é união dos quatro elementos. Ela é a magia da Bahia.
E se hoje ela é branca na poesia, é negra demais no coração.
Maria Bethânia Vianna Telles Velloso, 61 anos de canto, poesia e inspiração.

Maria Betânia
Composição: Capiba
Maria Betânia Tu és para mim A senhora do engenho
Em sonhos te vejo Maria Betânia és tudo que eu tenho
Quanta tristeza sinto no peito
Só em pensar Que o meu sonho está desfeito
Maria Betânia Te lembras ainda Daquele São João
As minhas palavras Caíram bem dentro do teu coração
Tu me olhavas com emoção
E sem querer Pus minha mão em tua mão
Maria Bethânia Tu sentes saudade De tudo, bem sei
Porém também sinto
Que nunca te dei Beijo que vive com esplendor
Nos lábios meus
Para aumentar a minha dor
Saudade do beijo Maria Betânia
Eu nunca pensei
Acabar tudo assim Maria Betânia Por Deus eu te peço Tem pena de mim. Hoje confesso com dissabor Que não sabia Nem conhecia o amor

"Para onde vai a minha vida e quem a leva?Porque eu faço sempre o que não queria?Que destino contínuo se passa em mim na treva?Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?"
Maria Bethânia.

Obrigada Senhores!

Daniella Paula.


E os agradecimentos de hoje vão a minha querida amiga Angela, que irá me acompanhar ao grande espetáculo da nossa amada Bethânia em Recife, ela que tem feito de tudo para que estejamos lá. A Joana que é uma fã muito especial de Bethâ, e que está nos ajudando muito a ir até ela. E ao Júlio Franciscato que tanto admira o meu encanto pela a deusa da MPB, e ainda me ajuda nas minhas idéias loucas. =) Vocês são uns dilúvios de emoção em minha vida. Obrigada de coração Angela lindona, Joana educadíssima e prestativa (na qual não vejo a hora de poder agradecê-la olhando nos seus olhos) e Júlio amado. Meus Bethamaníacos de alma.


Beijos maricóticos a todos!

quinta-feira, 20 de março de 2008


Boa Noite! Ou melhor, linda noite! Aqui pelo menos, um friozinho acolhedor, Drummond me fazendo companhia, chocolates e café com leite e Enya com a sua lírica bem ao pé do meu ouvido.
Tem coisa melhor? Tem, sim. Poder dividir com vocês emoções, gostos, idéias, ideais, bobagens, sonhos; enfim o que quisermos Ser.

Para essa noite deixarei Vinícius de Moraes e sua suavidade, e depois publicarei um singelo texto- poético da minha autoria, falando da Bossa-Nova e do Nosso Brasil Brasileiro. Espero que gostem.

A Brusca Poesia Da Mulher
Vinícius de Moraes


Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrânciajá me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumasE seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos Empós meu canto. É ela uma menina.
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão. Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras.
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa
Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.Seu corpo, pouco a pouco
Abre-se em pétalas... Ei-la que vem vindoComo uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imenso em trevas.
Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos!Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos!Alvoroçai-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela
De longe, como o tempo
A minha amada última!

*Esse poema me traduz, me retrata, me toca. Sua bênçao capitão do mato! Vinicius é um guia em minha vida.

Minha Bossa, Meu Brasil

Cadê o Brasil da Bossa?
Onde Ary deixou o Brasil Brasileiro?

Será que ele a escondeu num canto no Pelourinho? Ou em uma elegante Rua de Copacabana? Ou terá dado a Vinicius e ele o embrulhou bem embrulhadinho e escondeu pelas tardes de Itapoã?

Bem, não sei bem.
O que sei é que quero a minha Bossa e o meu Brasil, novamente brasileiro.
Quero dar um forte abraço na mulher nova, que está a completar seus 50 aninhos.
Uma moça! Talvez desvirginada, mas eternamente moça!
Chegou aos 50 com um corpo escultural, uma voz suave, um violão bem afinado debaixo do braço esquerdo e um bocado de livros em baixo do sovaco.
Ainda na pele aquele perfume forte e inebriante de Nara e João Gilberto.
E com o tom da pele de Tom, com os chopes de Jobim.
Com o mesmo brilho nos olhos; brilho de Chico, de Buarque e até de Hollanda.
Chegou aos cinqüenta com o gosto da Doce Pimenta.
Ainda com um pouco de tristeza, mas como dizia o poeta, pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza.
Ah, minha Bossa, menina trigueira, mulata brejeira.
Você que fez redescobrir o Brasil.
Numa época de guerra, e de amores mil.
Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida.
Porque tu és a minha mais velha menina.

Bem, não sei bem.
O que sei é quero ver o Brasil dos meus brasis.
Quero poder tirar novamente, a mãe preta do cerrado.
E colocar o Rei congo no congado.
Quero o Brasil que saiba que é Brasileiro.
O Brasil de vários tambores.
Quero o Brasil de muitos amores.
Quero rever o Brasil segundo o padre Simão, que afirmava que aqui era o paraíso terrestre. Mesmo que para isso, assim como ele, eu tenha que ir ao tribunal da santa inquisição. Ser julgada e apedrejada por querer amar algo que não seja em vão.
Ah, meu mulato inzoneiro, meu homem sertanejo, minha baiana de saia rodada, meu mineiro que come queitinho, meu forte paulistano, meu malandro carioca... Onde está sua garra contra a derrota?!
Eu quero te ver de novo como um trovador, fazendo suas belas cantigas de amor.
Se for necessário, para voltar a ser brasileiro,
Venha meu Senhor Brasil, volte para caantiga, para o sertão, deixa por aí a violência, o sem pão. E redescubra os brilhos e ânsias dos seus filhos prodígios, desejando que volte a ser brasileiro, de verdade, de coração.
Polpa – me homem, de desencantar.
Deixe-me acreditar nos velhos carnavais, nas velhas vanguardas, nas suas boas músicas, nos seus verdadeiros filhos, em Caymmi, no seu mar.
Devolva Ary, o nosso Brasil Brasileiro.
Estou farta do Brasil brejeiro.

Daniella Paula.

*Gosto desses pequenos mimos da alma. Não sou escritora, poetisa e nem tenho essas pretensões, mas por vezes me deparo com essas vontades de me expressar. Adoro escrever, para mim é um refúgio.

Os agradecimentos de hoje vão ao Senhor João Carlos Silva Cardoso por ter me enviando um belo texto de "boas-vindas" em meu e-mail, após eu ter dito que voltaria ao blog. Um grande um Homem uma linda mente!
E ao meu querido amigo Flávio, apesar ser "apenas" virtual, todos os dias passa as mãos nos meus cabelos, acarecia minha face e me faz sentir ainda mais amada. Pedi uma idéia do que iria publicar hoje, ele logo me lembrou do poema de Vinícius que tanto retrata a minha vida. Obrigada Flávinho! Gosto MUITO de você!

Obrigadíssima Senhores (como diria Maricotinha) por estar revivendo comigo!
Tenham uma boa madrugada e uma sexta-feira santa de paz, amor, união e de Jesus no coração.

Beijos... Com carinho: Dani.

As Boas Vindas

"Quando rever é reviver..."
Fiquei alguns minutos pensando no título para esse novo "canto de refúgio", foi quando me veio a mente um poema de Clarice Pacheco:

"Quando rever é reviver.
Preciso reviver, eu bem sei,
mesmo que só na lembrança,
voltar à minha antiga casa,
rever a minha infância
e todos os momentos felizes que lá passei."

Inspirador!

Não só pelo poema, mas também por mudanças significativas na minha vida, uma ânsia de querer reviver para poder reconstruir, e para isso a necessidade de rever. Deu-se o nome do blog.
Convido vocês a rever comigo... E juntos reviver!

Sejam bem vindos! Aqui nós podemos ser...


PS. Refiz esse blog porque perdi a senha do outro com o mesmo nome. Desculpam-me a minha ausência e obrigada sempre pelo carinho. Dani.