quinta-feira, 8 de maio de 2008

A PAIXÃO DO SERESTEIRO

Bom Dia! =)
Acordei apaixonada pela noite! =D

Falaremos então, da paixão do Seresteiro.

Boa leitura!

A Paixão Do Seresteiro

Lá se vai o seresteiro da noite
Disvirginar a madrugada.
Esse é o seu papel de ser,
E ele todos os dias ao pôr do sol
Realiza o seu teatro.
Apaixona-se e faz apaixonar.
Encanta e é desencantado.
Ama e faz ser amado.
Mas tudo se finda no primeiro raio de sol.
É quando ele volta a ser o homem preso em sua gaiola.
Esquece a dureza da liberdade,
E acostuma-se com o conforto das algemas.
Na anunciação da aurora,
Seus olhos choram, já com a saudade da noite.
E quando se vê abrindo seus olhos, nada quer enxergar.
Quer ver apenas a escuridão poética da noite.
Não deseja o calor do dia,
Porém se enlouquece de tesão com o frio da madrugada.
Entristece-se com o café preto, amargo e caótico que representa a manhã.
Endurece-se com o cantar dos pássaros que avisam o seu percurso do dia.
Enquanto a banal platéia se alegra com o nascer dos primeiros raios de sol,
O seresteiro se enfurece com a ardente esperança inventada.
Ele gosta é a da noite, cria da sua costela.
Gosta é da madrugada, sua magrela recalcada.
Gosta das suas paixões instantâneas;
Dos seus instantes repentinos de êxtase sagrado;
Das suas serenatas em noites de lua cheia;
Do seu vinho doce e quente;
Dos raios mais perceptivos durante a escuridão;
Ele gosta é do seu teatro.
Ama o manto negro da noite e o sereno da madrugada.
O silêncio do escuro.
A solidão da lua.
O sagrado da boêmia.
A exaltação da superação de mais um dia que a noite traz.
Ama o descanso do fim do dia.
O murmúrio dos fantasmas noturnos.
A canção do vento cantada com o obscuro.
Os compositores sonâmbulos.
Os andarilhos sem rumo, sem nomes e sem lares, traiçoeiros e vulgares.
As ruas vazias, distantes da multidão do dia.
O céu da noite, quando ele tem estrelas e quando não as tem.
Porque entende que o céu da noite é sábio o suficiente para saber, quando deve e quando não deve, soltar suas meninas.
O seresteiro detesta a farsa das prostitutas da tarde.
E se encanta com as suas pernas de fora durante a noite.
Não suporta a forma de ganhar dinheiro durante as manhãs.
Idolatra os poetas e cantores noturnos, que passam o dia dormindo;
Assim como idolatra a insônia dos andantes.
E o perigo dos amantes.
Vibra com os olhos cansados percorrendo linhas e linhas, de um livro lido durante o “chegar a casa”.
Excita-se com os perfumes fortes e misturados dos boêmios.
Enjoa-se com o cheiro cítrico das manhãs e das tardes.
Fascina-se com o silêncio dos apreciadores da madrugada.
Enfurece-se com o barulho escaldante da fábrica ligada.
Ele só sente o sabor da comida a noite, quando é possível apreciá-la sem a pressa do almoço.
O seresteiro enche seu peito de paz ao ver os sonos das crianças.
E de vida ao ver o choro do recém-nascido e a perca de sono dos seus pais.
Os automóveis correndo em direção contrária e correndo, porque na madrugada é possível.
Na madrugada tudo é possível.
E quando surge o raiar do dia, o seresteiro sente uma dor no cotovelo, uma melancolia de falsa esperança, uma enxaqueca inventada, uma angústia sem ritmo, uma fome do que não seja óbvio, uma nostalgia.
O seresteiro tem tanto da noite que ambos se confundem.
Ele a tem como paixão, enquanto ela o recebe apaixonada.

Daniella Paula

E o agradecimento de hoje irá ao Senhor Edinásio. Ele diz ser meu apreciador, diz que eu sou "os dedos que falam" e "os olhos que guiam", mas na verdade, ele é quem é uma espécie de "sacerdote" literário em minha vida, e receber qualquer palavra que venha dele é sempre uma honra para mim. Sobre o texto poético, ele o resume em "a embriaguez da noite". Coisas de homem sensível. Quando disse a ele, que postaria o texto aqui, ele logo avisou: Mande cuidarem bem da minha noite e terem sensibilidade ao ler suas palavras. =) Achei isso lindo!
Um agradecimento em forma de sentimento puro a ele.

E muito obrigada a todos vocês! São incríveis acariciadores da minha alma.
Dani.

6 comentários:

Anônimo disse...

Dani, amada. Faz um favor, aumente a letra dos seus textos. Só dos textos. Menina, você nos prende com suas palavras e acaba de acabar com a nossa miopia... rerere...
Lindíssimo tudo aqui.
Sábado, quando você sair do teatro, venha aqui no ap, comentarei em off o que achei do texto. Lembra o bandido... ¨)
E tem aquele prometido vinho,com aquele queijo pobre de minas que vc adora...

bjs.

Unknown disse...

Poético e sensível.
Tem que lembrar você, tem que ser seu.
Beijo.

Anônimo disse...

Maravilhosamente lindo! você faz com que eu admire cada vez mais as suas palavras. Particularmente adorei, adorei mais...
Beijos Xi

Anônimo disse...

maravilhosamente maravilhoso!
A farsa das prostitutas de dia...
Isso é fantástico! Quanta sensibilidade...

Joana disse...

Dani,acho que as ruas de Olinda influiram muito na "paixão" é o sonho de todo seresteiro ruas estreitas e enluaradas,o reflexo no calçamento polido pelos pés andarilhos. . .
Vá em frente, escreva mais e mais
siga seu destino escritor.
Beijos.

Anônimo disse...

Hei, eu me lembro do Senhor Edinásio... Ele estava naquela peça que você fez a montagem, que e disse pra mim que eu sou parecida (dramaticamente) com a Renata Sorrá. Fiquei toda cheia! E disse que você é excêntrica pra escrever e isso será sua marca... Uma coisa mais ou menos assim.
Bem, vamos ao blog. Eu adorei...
Adorava o outro, mas esse está cheio de poesia e encantamento. "MEU AMADO RECIFE" é lindo demais! E a Gruta é clariciana. Você abalou! Ah! E em "MEU NÚMERO A MINHA PEÇA" você quebrou padrões que normalmente as pessoas fazem ao seu respeito.Te acham sempre (pelo menos as que nós conhecemos juntas) a Madre Tereza de Calcutá, mas na pele sarcastica de uma filha de oxumaré.
E o show, resumindo, foi um orgamos pra vc...kkkkkkkkk...
E esse é lindo demais! Noite, madrugada, seresteiro, farsa do dia... é lindo...

comece a publicar seus contos aqui... adoraria vê-los.

Beijos com muitas saudades!

Joyce