quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A incógnita

As trombetas dos anjos anunciavam. Porém, eu ainda não podia escutar.
As torturas do ser a minha frente, gritavam silenciosamente as dores mais intensas de um ser a se debruçar. No entanto, eu nada podia enxergar.
As cores escuras de dia de inverno sombrio, tentavam me mostrar. Mas, eu sentia medo de encontrar.
Os olhos esbugalhados diante do desconhecido acenavam à cena acontecida. Porem, eu fechava os meus olhos para não me deparar.
A boca seca, após correr todo seu liquido, vomitava o que estava a declarar. No entanto, eu não queria esbravejar.
As mãos frias e indizíveis penetravam as minhas, para eu poder salvar. Mas, eu nada podia diante da incompetência do estar.
O corpo mostrava que já não era mais morada. E eu ali, a não decifrar.
O vermelho escaldante, jorrado aos buracos da inconformidade de deixar. E eu sem ver o sangue que tudo dizia ao meu estranho dilacerar.
A incógnita veio até ela. À moça de belos dentes e com feio sorriso, seios fartos como úbere, cabelos alourados como o ímpeto do ouro, pele pálida como a da lua, corpo doloroso e avantajado como as das meninas noturnas e olhos com a grande fome.
A contração daquela dor, talvez a deixasse mais bonita. Ela fixava toda a sua salvação em minhas mãos, e eu sem decifrar que aquela ela hora de deixar.
Eu era um ser incompetente, frágil e fraco perto daquela moça que estava a se renunciar. Perto daquela majestosa senhora que veio buscá-la. Nada podia fazer o meu bucólico ser.
Foi quando, ela cravou as suas longas unhas vermelhas no meu pulso, deu um suspiro sobrepujante, que a fez ultrapassar os seus limites de ser; obstruiu-se o seu eu desse mundo paralelo e descontente.
Num dia sem sol, cheio de velas faiscantes, com cheiro de nudez impregnado no ar, através de um grito silencioso e de um olhar escandaloso; na rua dos deixados, número 13; a moça se entrega a incógnita da morte. Morre em meus braços, desfaz o seu ser.
Agora entendo os sinais. Tarde demais. Lá se foi para fora dos martírios da vida. Lá se foi a que nunca foi bem vinda.

Daniella Paula

Mudei o nome do blog... Mudanças, esquivanças, esperanças...
Espero que entendam essas palavras vazadas dos fragmentos d’ minha alma!

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo conto.
A morte como poesia, mais uma vez.

Sonho!

Anônimo disse...

É lindo Dani. Muito Lindo!