Que falem outros do otimismo
Os sonhos se calam perante a nebulosa alma.
A vida se esvai como a calada da noite.
Os pássaros pousam e os ventos não os ajudam a voltarem a voar.
As nuvens que andam para deixar brilhar o sol, só trazem a chuva.
As crianças tornam-se frutos que as aves não querem comer.
As rosas deixam de exalar perfume e esquecem a data que têm que se abrirem.
Os homens corrompem-se.
As mulheres não se edificam.
A pedra já está em pedaços, e a água continua a derrotá-la.
Já não se vê o brilho nos olhos, a paisagem não ajuda.
Já não se vê o sorriso nos lábios, a alegria foi se aportar em outro lugar.
A amizade não transforma mais.
E o amor tornou-se cansativo.
A morte leva todos os puros e os tão queridos.
Deixando os complacentes.
Já não se recebe mais flores. As pedras vieram para substituí-las.
Os viciados encontram na sua droga, uma maneira de fugir...
Covardes eles, covardes nós.
Que falem outros do otimismo.
Daniella Paula
sábado, 28 de junho de 2008
quinta-feira, 26 de junho de 2008
sexta-feira, 20 de junho de 2008
O Meu Amor
Tela: Pablo Picasso
O meu amor
O meu amor não é aquele que sempre sonhei,
É mais que um simples sonho construído
É um sonho de amor acordado
Que beija a minha pele ao amanhecer
E declama verdades ao anoitecer.
Verdades que formam a nossa poesia
Porque de verdade é feito o nosso sonho de amor acordado.
O meu amor é como um pássaro revestido de mel
Que pousa sobre meus lábios desnudos,
Os encoberta com o seu sabor
E volta a voar sem pudor.
O meu amor não é aquele que sempre pedi,
É mais que uma complacência falácia ou uma fé piegas.
Ele me concede mais do que clamei,
Surpreende-me mais do que pensei,
Ama-me mais que o necessário ao meu ser.
O meu amor entende o meu silêncio ausente
E como uma amante quente
Excita-me calada para que eu volte
Da dor da viagem da mente
O meu amor não é aquele cordial
É um tanto laico, por sinal,
Pois é mais que belas maneiras e boas palavras,
É o amor na sua pureza e no seu primitivismo.
Ama com a dor de não entender o que ama
E com a beleza de se entregar ao desconhecido.
O meu amor não é aquele que imaginei,
É mais do que indaguei,
É mais que do que supliquei,
É mais do que esperei,
É bem mais do que sei.
Sendo assim, nada do que eu disser,
É o bastante para o meu amor que é sem fim.
Posto que tudo que há em mim,
É pouco para esse Ser,
Que me invadiu, inundou-me e pronto e fim.
O meu amor não é aquele que sempre sonhei,
É mais que um simples sonho construído
É um sonho de amor acordado
Que beija a minha pele ao amanhecer
E declama verdades ao anoitecer.
Verdades que formam a nossa poesia
Porque de verdade é feito o nosso sonho de amor acordado.
O meu amor é como um pássaro revestido de mel
Que pousa sobre meus lábios desnudos,
Os encoberta com o seu sabor
E volta a voar sem pudor.
O meu amor não é aquele que sempre pedi,
É mais que uma complacência falácia ou uma fé piegas.
Ele me concede mais do que clamei,
Surpreende-me mais do que pensei,
Ama-me mais que o necessário ao meu ser.
O meu amor entende o meu silêncio ausente
E como uma amante quente
Excita-me calada para que eu volte
Da dor da viagem da mente
O meu amor não é aquele cordial
É um tanto laico, por sinal,
Pois é mais que belas maneiras e boas palavras,
É o amor na sua pureza e no seu primitivismo.
Ama com a dor de não entender o que ama
E com a beleza de se entregar ao desconhecido.
O meu amor não é aquele que imaginei,
É mais do que indaguei,
É mais que do que supliquei,
É mais do que esperei,
É bem mais do que sei.
Sendo assim, nada do que eu disser,
É o bastante para o meu amor que é sem fim.
Posto que tudo que há em mim,
É pouco para esse Ser,
Que me invadiu, inundou-me e pronto e fim.
Daniella Paula
terça-feira, 17 de junho de 2008
SOU EU
Tela: Lucian Freud
Boa tarde senhores!
"A saudade me trouxe pelas mãos..."
Este "Sou Eu" é uma melancolia poética. Estou tão ousada com isso aqui... =] Até "melancolia poética" estou fazendo-os ler. =)
Vamos à melancolia (é bom ser piegas de vez quando)
Sou Eu
“Sou eu quem alivia suas duras cólicas de vida.
Sou eu quem suporta suas falácias paixões mundanas.
Sou eu quem tolera as suas instáveis transgressões.
Sou eu quem perde as madrugadas de sono, para suprir sua sede de atenção.
Sou eu quem calça seus pés frios nas noites de inverno e protege seu corpo dos ventos cortantes.
Sou eu quem congela a própria alma para restituir apenas a sua.
Sou eu quem se dilacera da grande fome para alimentar todo o seu Ser.
Sou eu quem se perde na vida, para traçar os caminhos tortuosos e poupar-lhe das dores.
Sou eu quem morre todos os dias para dar infinitude ao seu espírito.
Sou eu quem adentra o mais tenebroso pélago, para poupar-lhe da tassofobia.
Sou eu quem eclodi o meu ser para renascer na sua verdade de vida.
E essa é a minha única forma de saber existir: Amar nuamente o seu coexistir."
Daniella Paula
Um cheiro nos cangotes de cada um! E um brilho no olhar ao ler os carinhos de vocês...
Boa tarde senhores!
"A saudade me trouxe pelas mãos..."
Este "Sou Eu" é uma melancolia poética. Estou tão ousada com isso aqui... =] Até "melancolia poética" estou fazendo-os ler. =)
Vamos à melancolia (é bom ser piegas de vez quando)
Sou Eu
“Sou eu quem alivia suas duras cólicas de vida.
Sou eu quem suporta suas falácias paixões mundanas.
Sou eu quem tolera as suas instáveis transgressões.
Sou eu quem perde as madrugadas de sono, para suprir sua sede de atenção.
Sou eu quem calça seus pés frios nas noites de inverno e protege seu corpo dos ventos cortantes.
Sou eu quem congela a própria alma para restituir apenas a sua.
Sou eu quem se dilacera da grande fome para alimentar todo o seu Ser.
Sou eu quem se perde na vida, para traçar os caminhos tortuosos e poupar-lhe das dores.
Sou eu quem morre todos os dias para dar infinitude ao seu espírito.
Sou eu quem adentra o mais tenebroso pélago, para poupar-lhe da tassofobia.
Sou eu quem eclodi o meu ser para renascer na sua verdade de vida.
E essa é a minha única forma de saber existir: Amar nuamente o seu coexistir."
Daniella Paula
Um cheiro nos cangotes de cada um! E um brilho no olhar ao ler os carinhos de vocês...
terça-feira, 10 de junho de 2008
Sua covardia em meu Ser
Boa noite!
Um poema para as minhas poesias. Obrigada pelos e-mails, senhor Edinásio, Érica, Évin, João e Nina (A Nina tirou cópias desse meu "isso" e distribuiu pra todo mundo!).
Sua covardia em meu Ser
Você poderá amar outros corpos, beijar outras bocas, percorrer outros seios.
Mas sou eu quem estará em suas entranhas, escorrendo pelo seu suor, derramado na outra.
Poderá sentir prazer com várias.
Mas sou eu quem estará em seu gozo, nos seus olhos fechados e orgásticos.
Poderá deitar-se em outras camas, escorrer em outros lençóis.
Mas é a minha cama e os meus lençóis que o seu intimo desejará.
Poderá sorrir descompassado logo o após.
Mas o seu sorriso verdadeiro virá quando lembrar do meu sorrateiro.
Poderá apaixonar-se diversas vezes e perder-se nelas.
Mas só encontrará a paixão quente em meus lábios, ao meu lado.
Só amará o meu ser. Só se eternizará nele.
Continue a se perder nesse labirinto que escolheu, com medo do meu mistério. Até cansar-se, querer morrer em meus braços e calar-se em meu espírito. E eu estarei aqui, castiça e pura para limpar-lhe da sua covardia, do seu medo e do seu desejo sujo.
Você poderá amar outros corpos, beijar outras bocas, percorrer outros seios.
Mas sou eu quem estará em suas entranhas, escorrendo pelo seu suor, derramado na outra.
Poderá sentir prazer com várias.
Mas sou eu quem estará em seu gozo, nos seus olhos fechados e orgásticos.
Poderá deitar-se em outras camas, escorrer em outros lençóis.
Mas é a minha cama e os meus lençóis que o seu intimo desejará.
Poderá sorrir descompassado logo o após.
Mas o seu sorriso verdadeiro virá quando lembrar do meu sorrateiro.
Poderá apaixonar-se diversas vezes e perder-se nelas.
Mas só encontrará a paixão quente em meus lábios, ao meu lado.
Só amará o meu ser. Só se eternizará nele.
Continue a se perder nesse labirinto que escolheu, com medo do meu mistério. Até cansar-se, querer morrer em meus braços e calar-se em meu espírito. E eu estarei aqui, castiça e pura para limpar-lhe da sua covardia, do seu medo e do seu desejo sujo.
Daniella Paula
Tenham todos uma linda e poética noite!
Obrigada por percorrerem os olhos pelos meus gritos do Inconsciente...
domingo, 8 de junho de 2008
Estacon
Boa Noite!
Segundo Érica Moraes, uma grande amiga jornalista, o nome deveria ser: “A poesia da morte”.
É um conto breve e branco, não tem enfeites e nem grandes palavras. Mas é quente, e eu espero que vocês sintam o quente dele.
Segundo Érica Moraes, uma grande amiga jornalista, o nome deveria ser: “A poesia da morte”.
É um conto breve e branco, não tem enfeites e nem grandes palavras. Mas é quente, e eu espero que vocês sintam o quente dele.
ESTACON
Era uma noite fria, nebulosa, de ventos fortes e úmidos, era uma sexta-feira.
Ela sentia desde cedo o obscuro do dia.
Tomou o seu café preto, com torradas e geléia. Banhou-se, perfumou-se com um cheiro cítrico irritante, colocou seu palitó empoeirado; empoeirado devido o clima da cidade, que quase nunca fazia frio. Nessa sexta-feira fez. Fez até demasiado. E foi-se há enfrentar seu dia.
Trabalhou em seu serviço banal e como todos os outros trabalhos extremamente significantes. No pouco tempo que havia para o almoço, comeu ligeiro, limpou os dentes, leu atrasada o jornal e voltou ao seu rotineiro trabalho.
Tudo parecia normal e estagnado como o de costume.
Quando na volta para casa, após passar na padaria, na livraria e na casa de flores, ela se vê deparada com o susto de viver.
A menina pediu as suas flores. Ela sorriu descompassada mente e ficou por alguns instantes sem ação. Disse que havia acabado de comprá-las e não queria desfazer delas. Perguntou o que a menina queria com as flores. É quando começa o conflito.
- É para o meu velório – disse Haia com um sorriso sonso.
De princípio assustou com a resposta da menina, depois deduziu que era uma brincadeira de criança e completou:
-Não brinque assim, menina! Agora é que não dou as flores, isso não teve graça. Cadê seus pais?
- O que importa saber? Eu só preciso das flores. Não existe ritual de morte sem flores e nem velas, pois bem, as velas eu consegui, também não importa como, só preciso das flores agora. Por favor, dá-me as flores?!
O susto veio mais forte, começou pelos pés até chegar ao seu mais profundo abismo de ser. Não havia graça nas palavras da menina. E ela simplesmente não poderia ignorá-la e seguir adiante, também não poderia mostrar-se desesperada. Ainda não havia chego a esse ponto.
- Ritual de morte? O que está havendo com você? Que brincadeira é essa? Faremos assim, a deixarei em sua casa, assim que chegarmos lá, darei as flores a você. Combinado? – Estava confusa. Isso não acontecia todos os dias na sua rotineira vida.
- Por que tantas perguntas? Eu só quero as flores, oras! Não iremos para minha casa, não há casa. Existirá depois das flores, que é a única coisa que falta.
Ela já estava suprimida em seu medo. Tarde demais para esquecer aquilo e seguir sua realidade inventada.
- O que fará se eu entregar-lhe as flores?
- Prepararei o ritual. Tem que ter ritual, senão não há morte.
- Eu não consigo compreendê-la! Por que deseja morrer?
Já estava envolvida demasiadamente na história de Haia.
- Não deve mais fazer perguntas. Entregue-me as flores e vá se embora. Ou nunca mais será a mesma diante da sua incompetência de viver. O tempo está esgotando, preciso preparar o ritual, antes de deixar-me.
Entregou trêmula as flores e com as pupilas dos olhos dilatas por lágrimas; acabou-se sua Tabula Rasa.
Haia agradeceu com um sorriso pálido e disse:
- Eu que sou talassofóbica, adentrarei o meu pélago.
Deu as costas e seguiu em passos fortes, pesados e rápidos.
Não havia como não segui-la, não havia como ir para casa dormir, após encontrar uma menina com palavras desafiadoras, dizendo que precisa preparar a sua morte.
A seguiu.
Haia tinha cabelos loiros encaracolados, uma pele muito branca, lábios sem sangue, olhos pretos amarelados, baixa estatura e aproximadamente doze anos de idade.
Ela precisou correr para poder alcançá-la; imaginou que a menina não soubesse que estava sendo seguida, mas ela sabia.
Após minutos de andanças, becos e becos, trilhas e trilhas; Haia pára em uma rua sem saída, sem luz, sem presenças e começa a preparar o seu ritual.
Ficaremos nesse momento de longe a observando.
A menina acendeu as velas, despe talou um pouco das flores e ajeitou ao lado das velas o que sobrou. Chorou como se sentisse um “leguelhé”. Tirou uma navalha da meia e cortou os pulsos, dessa vez sem choro, sem desespero, passivamente, como se não sentisse dor.
Ouve-se um grito, não era de Haia, era dela que tentava fazer com que a menina parasse.
Exclamou diversas vezes: “pare, por favor, pare”.
E Haia pediu para ela não se aproximar, e soou já quase em posição dorsal e quase sem sangue e com um leve sorriso:
- Obrigada por ter vindo, era preciso um choro desesperado e de perca, para o ritual.
Não sinta por mim. Você também está morta. Viver, por fim, acaba nos fazendo morrer. Eu abortei o meu caminho e você está prejudicando o feto, até ele por si só, abortar-se.
É o meu escaton e para você a epifania.
Já não havia mais sangue para mantê-la viva, não havia mais voz para os seus mistérios, não havia mais nela a sua parte Haia. A menina a libertou para a vida e matou a sua Haia.
Jamais poderia ser a mesma, presenciou um suicídio, talvez de uma parte de si mesma, talvez o seu próprio suicídio ou ainda, sua renascença para o viver.
Com a menina ainda no colo, disse essas palavras como uma prece:
“Jorra o teu sangue no meu eu.
Entre com suas entranhas em minhas entranhas.
Flui com a sua leveza a minha palpitação.
Invada-me com os seus órgãos, os meus sentidos.
Quebre o meu mundo com suas avalanches decodificadas.
E por fim, faça-me esquecer de me prometer à vida e vivê-la.”
E mais que nunca desejou entender o humano, clamou:
“Quero ter a perdição como guia, para desvendar o segredo da existência humana. Já que para fazê-la é preciso entrar em um descaminho”.
Aquela sexta-feira de frio intenso e vento úmido, com uma menina suicida, fizeram com que eclodisse o seu espírito opaco, para restituir toda a sua alma brilhante.
Era a sua epifania, mas antes, o seu estacon.
Era uma noite fria, nebulosa, de ventos fortes e úmidos, era uma sexta-feira.
Ela sentia desde cedo o obscuro do dia.
Tomou o seu café preto, com torradas e geléia. Banhou-se, perfumou-se com um cheiro cítrico irritante, colocou seu palitó empoeirado; empoeirado devido o clima da cidade, que quase nunca fazia frio. Nessa sexta-feira fez. Fez até demasiado. E foi-se há enfrentar seu dia.
Trabalhou em seu serviço banal e como todos os outros trabalhos extremamente significantes. No pouco tempo que havia para o almoço, comeu ligeiro, limpou os dentes, leu atrasada o jornal e voltou ao seu rotineiro trabalho.
Tudo parecia normal e estagnado como o de costume.
Quando na volta para casa, após passar na padaria, na livraria e na casa de flores, ela se vê deparada com o susto de viver.
A menina pediu as suas flores. Ela sorriu descompassada mente e ficou por alguns instantes sem ação. Disse que havia acabado de comprá-las e não queria desfazer delas. Perguntou o que a menina queria com as flores. É quando começa o conflito.
- É para o meu velório – disse Haia com um sorriso sonso.
De princípio assustou com a resposta da menina, depois deduziu que era uma brincadeira de criança e completou:
-Não brinque assim, menina! Agora é que não dou as flores, isso não teve graça. Cadê seus pais?
- O que importa saber? Eu só preciso das flores. Não existe ritual de morte sem flores e nem velas, pois bem, as velas eu consegui, também não importa como, só preciso das flores agora. Por favor, dá-me as flores?!
O susto veio mais forte, começou pelos pés até chegar ao seu mais profundo abismo de ser. Não havia graça nas palavras da menina. E ela simplesmente não poderia ignorá-la e seguir adiante, também não poderia mostrar-se desesperada. Ainda não havia chego a esse ponto.
- Ritual de morte? O que está havendo com você? Que brincadeira é essa? Faremos assim, a deixarei em sua casa, assim que chegarmos lá, darei as flores a você. Combinado? – Estava confusa. Isso não acontecia todos os dias na sua rotineira vida.
- Por que tantas perguntas? Eu só quero as flores, oras! Não iremos para minha casa, não há casa. Existirá depois das flores, que é a única coisa que falta.
Ela já estava suprimida em seu medo. Tarde demais para esquecer aquilo e seguir sua realidade inventada.
- O que fará se eu entregar-lhe as flores?
- Prepararei o ritual. Tem que ter ritual, senão não há morte.
- Eu não consigo compreendê-la! Por que deseja morrer?
Já estava envolvida demasiadamente na história de Haia.
- Não deve mais fazer perguntas. Entregue-me as flores e vá se embora. Ou nunca mais será a mesma diante da sua incompetência de viver. O tempo está esgotando, preciso preparar o ritual, antes de deixar-me.
Entregou trêmula as flores e com as pupilas dos olhos dilatas por lágrimas; acabou-se sua Tabula Rasa.
Haia agradeceu com um sorriso pálido e disse:
- Eu que sou talassofóbica, adentrarei o meu pélago.
Deu as costas e seguiu em passos fortes, pesados e rápidos.
Não havia como não segui-la, não havia como ir para casa dormir, após encontrar uma menina com palavras desafiadoras, dizendo que precisa preparar a sua morte.
A seguiu.
Haia tinha cabelos loiros encaracolados, uma pele muito branca, lábios sem sangue, olhos pretos amarelados, baixa estatura e aproximadamente doze anos de idade.
Ela precisou correr para poder alcançá-la; imaginou que a menina não soubesse que estava sendo seguida, mas ela sabia.
Após minutos de andanças, becos e becos, trilhas e trilhas; Haia pára em uma rua sem saída, sem luz, sem presenças e começa a preparar o seu ritual.
Ficaremos nesse momento de longe a observando.
A menina acendeu as velas, despe talou um pouco das flores e ajeitou ao lado das velas o que sobrou. Chorou como se sentisse um “leguelhé”. Tirou uma navalha da meia e cortou os pulsos, dessa vez sem choro, sem desespero, passivamente, como se não sentisse dor.
Ouve-se um grito, não era de Haia, era dela que tentava fazer com que a menina parasse.
Exclamou diversas vezes: “pare, por favor, pare”.
E Haia pediu para ela não se aproximar, e soou já quase em posição dorsal e quase sem sangue e com um leve sorriso:
- Obrigada por ter vindo, era preciso um choro desesperado e de perca, para o ritual.
Não sinta por mim. Você também está morta. Viver, por fim, acaba nos fazendo morrer. Eu abortei o meu caminho e você está prejudicando o feto, até ele por si só, abortar-se.
É o meu escaton e para você a epifania.
Já não havia mais sangue para mantê-la viva, não havia mais voz para os seus mistérios, não havia mais nela a sua parte Haia. A menina a libertou para a vida e matou a sua Haia.
Jamais poderia ser a mesma, presenciou um suicídio, talvez de uma parte de si mesma, talvez o seu próprio suicídio ou ainda, sua renascença para o viver.
Com a menina ainda no colo, disse essas palavras como uma prece:
“Jorra o teu sangue no meu eu.
Entre com suas entranhas em minhas entranhas.
Flui com a sua leveza a minha palpitação.
Invada-me com os seus órgãos, os meus sentidos.
Quebre o meu mundo com suas avalanches decodificadas.
E por fim, faça-me esquecer de me prometer à vida e vivê-la.”
E mais que nunca desejou entender o humano, clamou:
“Quero ter a perdição como guia, para desvendar o segredo da existência humana. Já que para fazê-la é preciso entrar em um descaminho”.
Aquela sexta-feira de frio intenso e vento úmido, com uma menina suicida, fizeram com que eclodisse o seu espírito opaco, para restituir toda a sua alma brilhante.
Era a sua epifania, mas antes, o seu estacon.
Daniella Paula
Agradeço à Érica, sempre gentil e poética.
Agradeço vocês, pelas boas palavras, pelos sensíveis olhos, pela doce cumplicidade!
Um beijo do tamanho da saudade que eu estava daqui.
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