Bom dia, boa tarde, boa noite... "A ausência tem me feito poeira" =)
Meu amigo Lino me "ordenou" que eu fizesse a letra de uma música para ele. Fiquei pensando como eu, sabendo mal arranhar um violão, entenderia rima para uma melodia, entenderia como colocar "espírito" num "corpo", como dar a luz numa canção juntamente com ele. Sempre me senti tão incapaz e tão pequena perante a Música; a música tem uma dimensão transcendental sobre nós. E esse mundo de compositores, poetas, sensibilidades mais que aguçadas, músicos, observações e absolvições extremadas, sinto ser muito para o meu “lugar habitável”.
Mas tentei, já que ordens para mim são pedidos.
E ele (graças às boas ninfas que ficaram fazendo bons fluídos), gostou.
Ligou-me dizendo: “Sua besta! Você não sabe do talento que tem. Eu adorei! É meio “bossa” meio “samba canção”, meio tudo meio nada. É especial”
Ele tem alma sensível. É músico!
Bem, aqui está o “experimento”. E eu, confesso estar louca para ver o que deu isso musicado.
Um beijo Lininho, tu és muito raro!
Socorro, amor!
Socorro, amor!
Eu estou com dor.
Ajude-me nessa empreitada
A vida é malvada
E o sonho é feito navalha
Eu estava procurando uma saída
Quando tropecei num labirinto
Logo fiquei aflita
Ao deparar-me com um infinito
As coisas mudavam de posições
E as portas pareciam grades
E havia homens em ações
Cometendo maldades
Eu corri desesperada
Não havia noite enluarada
Havia faca afiada
E eu, desorientada.
Socorro, meu amor!
Tire-me da dor.
Ajude-me nessa enroscada
A vida maltrata
E o sonho retarda.
Não quero mais essa coisa latente
Quero lua, pois está quente.
O sol escalda a pele
E o poro se repele
Socorro, amor!
Cadê seu músculo?
Eu só tenho corpúsculo
E nada mais
Tudo que eu tinha ficou lá atrás.
O assombro me levou a alma
Os órgãos e as vísceras
As verdades inventadas
E as mentiras vividas
Eu não sei como sair
Dessa viagem demente
Sei que sinto um calor efervescente
E desse labirinto só você pode me salvar
Socorro, amor!
Ajude-me a me achar...
Daniella Paula
terça-feira, 26 de maio de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Intrínsecos
Queimem os livros de auto-ajuda
Dêem-me agulhada profunda
Deixem que o calor me congele
Deixem que o frio arda a minha pele
Concedam-me Neruda
Ele me ajuda.
Quero flores lótus
Fogos de corpos.
Tirem Cristo da Cruz
Limpem os seus sangues nus.
Acordem os ancestrais
Quero tudo o que ficou para trás.
Apaguem as cinzas das ruas loucas
Quero todas as cores de Almodóvar
Abram as pernas, quero todos os gozos reprimidos.
Gritem todos, os seus gemidos.
Comam a religião
Depois vomitem a um deus pagão.
Parem de cortar as asas dos pássaros e colocar nas serpentes.
E depois, consultem as suas mentes.
Gritem no natal
Silenciem no Carnaval
Viva o fatal
Não tenham medo do mal,
Monstros e coisa e tal.
Depois, dêem-me um amor avassalador.
Em seguida, tirem-no com sofreguidão de mim, para que o meu fim seja de um sumidouro de amor carmim.
Daniella Paula
Dêem-me agulhada profunda
Deixem que o calor me congele
Deixem que o frio arda a minha pele
Concedam-me Neruda
Ele me ajuda.
Quero flores lótus
Fogos de corpos.
Tirem Cristo da Cruz
Limpem os seus sangues nus.
Acordem os ancestrais
Quero tudo o que ficou para trás.
Apaguem as cinzas das ruas loucas
Quero todas as cores de Almodóvar
Abram as pernas, quero todos os gozos reprimidos.
Gritem todos, os seus gemidos.
Comam a religião
Depois vomitem a um deus pagão.
Parem de cortar as asas dos pássaros e colocar nas serpentes.
E depois, consultem as suas mentes.
Gritem no natal
Silenciem no Carnaval
Viva o fatal
Não tenham medo do mal,
Monstros e coisa e tal.
Depois, dêem-me um amor avassalador.
Em seguida, tirem-no com sofreguidão de mim, para que o meu fim seja de um sumidouro de amor carmim.
Daniella Paula
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Dia de Verão
Teve um dia que eu fui feliz. Depois me perguntei como tudo foi um triz.
Interroguei o verão que se fazia e que se foi e deixou o inverno.
Interroguei o verso. Virei tudo do avesso.
Revirei as gavetas. Indaguei os cometas.
Procurei as onças e os animais selvagens em que cavalgava.
Perguntei por que eles me deixaram. Eu os amava.
Fui ao mar. Respirar. Atingir. Mergulhar.
Fui além da arrebentação. Fui entender essa outra dimensão.
A dimensão que leva o feliz e traz o triste.
Entender como se ora é céu, ora é inferno. Ora é verão, ora é inverno.
Alma. Corpo. Espírito. Coração.
Por que certos órgãos, psicológicos e sentimentos não ficam nunca em concordância?
Indagações de criança.
Li os científicos. Só entendi na poesia.
Esperança ainda tinha.
Volte dia para a minha retina. Quebre a rotina.
Devolva-me a esperança. Dá-me coragem de entrar na dança.
Lampeiro. Fugaz. Efêmero.
Dia de verão que se é feliz, por um triz.
Interroguei o verão que se fazia e que se foi e deixou o inverno.
Interroguei o verso. Virei tudo do avesso.
Revirei as gavetas. Indaguei os cometas.
Procurei as onças e os animais selvagens em que cavalgava.
Perguntei por que eles me deixaram. Eu os amava.
Fui ao mar. Respirar. Atingir. Mergulhar.
Fui além da arrebentação. Fui entender essa outra dimensão.
A dimensão que leva o feliz e traz o triste.
Entender como se ora é céu, ora é inferno. Ora é verão, ora é inverno.
Alma. Corpo. Espírito. Coração.
Por que certos órgãos, psicológicos e sentimentos não ficam nunca em concordância?
Indagações de criança.
Li os científicos. Só entendi na poesia.
Esperança ainda tinha.
Volte dia para a minha retina. Quebre a rotina.
Devolva-me a esperança. Dá-me coragem de entrar na dança.
Lampeiro. Fugaz. Efêmero.
Dia de verão que se é feliz, por um triz.
Daniella Paula
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Homens que amam demais
Eles estavam abraçados, entrelaçados em seus corpos grandiosos.
Fiquei a olhá-los. Belos como convém aos amantes.
Apaixonaram-se pelas barbas, pelos pêlos espessos, pelos excessos,pelas mãos cumpridas, pelos lugares apertados, pela necessidade de serem extravasados.
Apaixonaram-se pelo indescritível, pelo invisível e o indizível.
Apaixonaram-se porque se compreendiam; apaixonaram-se porque não entendiam.
Apaixonaram-se porque era o que sabiam fazer; apaixonaram-se porque não sabiam o risco a correr.
Apaixonaram-se porque ardiam, e porque nas suas rebeldias, traduziam a língua dos amantes quentes, e não decifravam as vadias dementes, tão pouco as mulheres ardentes.
Apaixonaram-se, pois, até a natureza é imperfeita, e o Deus erra e eles corrigem. E o Deus acerta e eles são as suas vertigens.
Apaixonaram-se porque é atrás que eles descobrem seus meios de andar para frente. E é no descansar dos peitos iguais que eles ficam em paz.
E agora, mortos como querem os imorais, entrelaçados como jamais gostariam os seus pais, nus e sem órgãos genitais... Descansarão em paz, nos seus eternos, fortes e agonizantes peitorais.
Esses homens amam demais.
Fiquei a olhá-los. Belos como convém aos amantes.
Apaixonaram-se pelas barbas, pelos pêlos espessos, pelos excessos,pelas mãos cumpridas, pelos lugares apertados, pela necessidade de serem extravasados.
Apaixonaram-se pelo indescritível, pelo invisível e o indizível.
Apaixonaram-se porque se compreendiam; apaixonaram-se porque não entendiam.
Apaixonaram-se porque era o que sabiam fazer; apaixonaram-se porque não sabiam o risco a correr.
Apaixonaram-se porque ardiam, e porque nas suas rebeldias, traduziam a língua dos amantes quentes, e não decifravam as vadias dementes, tão pouco as mulheres ardentes.
Apaixonaram-se, pois, até a natureza é imperfeita, e o Deus erra e eles corrigem. E o Deus acerta e eles são as suas vertigens.
Apaixonaram-se porque é atrás que eles descobrem seus meios de andar para frente. E é no descansar dos peitos iguais que eles ficam em paz.
E agora, mortos como querem os imorais, entrelaçados como jamais gostariam os seus pais, nus e sem órgãos genitais... Descansarão em paz, nos seus eternos, fortes e agonizantes peitorais.
Esses homens amam demais.
Daniella Paula
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
O poeta
Um poeta deve ter dor
E dor onde ninguém saiba.
E deve sentir todas as dores e todos os amores que há no mundo.
Deve ter a escuridão, e deixar explodir todas as estrelas. Deve fazer nascer luz.
Deve entender de partos.
Um poeta tem que conhecer perfumes e odores.
Deve descrever sobre a Dolores e amar as suas dores.
Um poeta tem que ser forte e ardente.
Frágil e quente.
Um poeta tem que agir com a verdade, mesmo que para isso, use o fingimento.
Deve ser nobre como a beleza e plebeu como a tristeza.
Tem que usar das lágrimas para mostrar a alma.
E usar do sorriso para mostrar o destino.
Um poeta tem que salvar vidas, através da sua elegia ou da sua pornografia.
Tem que adorar o nada e o tudo.
Deve ser o próprio silêncio e ter em si todas as palavras.
Um poeta deve cortar os pulsos com flores e sobreviver com pedras.
Tem que andar no ritmo das correntezas dos rios e se escaldar nas areias como as ondas.
Deve saber observar o belo e entender o torpe.
Um poeta deve ver além do verde e do azul, tem que ver o cinza que há por trás de tudo.
Deve enxergar com as mãos e o coração e sentir com os olhos e abraçar com a alma.
Um poeta deve ter em si a eternidade e jamais ostentá-la.
Deve acariciar e bater com as suas palavras.
E deve ferir com o seu silêncio.
Um poeta deve saber chorar compulsivamente ao ver o sonho do outro quebrado, e gritar silenciosamente quando o seu sonho for derrubado.
Tem que transbordar os olhos de lágrimas, todos os dias, ao ler um poema, e alegrar-se profundamente ao nascer de qualquer semente.
Um poeta deve ferir-se com a insensibilidade e vangloriar-se com as raridades sensíveis.
Deve sentir os antepassados nos bosques e praças, e respeitar os seus espíritos.
Um poeta deve ver o sol nascer e nesse momento matar sua soberba.
Deve ver o sol se pôr e aguar o orgulho de si mesmo.
Um poeta tem que olhar nos olhos. Olhar simplesmente nos olhos; nem mais para baixo, nem mais para cima.
Deve proteger os apaixonados, mesmo aqueles enganados.
Um poeta tem que admirar os rituais e jamais julgá-lo.
Não precisa dançar o compasso da vida, mas deve entendê-lo.
Um poeta tem que saber que, as crianças e os velhos sabem mais que as suas rimas.
Deve gargalhar dos ecos.
Esbravejar das injustiças.
Um poeta tem que ser divinamente humano.
Compreender o divino, sentindo o humano.
Um poeta deve saber que não sabe. E ter consciência que entende.
Deve ser louco para que os deuses o proteja.
E deve ser lúcido para que o Deus o respeite.
Deve ter brilho no olhar e uma cor opaca nos lábios.
Dedos das mãos alongados e pés firmes.
E o poeta deve esquecer todas essas regras e ser simplesmente poeta.
Daniella Paula
E dor onde ninguém saiba.
E deve sentir todas as dores e todos os amores que há no mundo.
Deve ter a escuridão, e deixar explodir todas as estrelas. Deve fazer nascer luz.
Deve entender de partos.
Um poeta tem que conhecer perfumes e odores.
Deve descrever sobre a Dolores e amar as suas dores.
Um poeta tem que ser forte e ardente.
Frágil e quente.
Um poeta tem que agir com a verdade, mesmo que para isso, use o fingimento.
Deve ser nobre como a beleza e plebeu como a tristeza.
Tem que usar das lágrimas para mostrar a alma.
E usar do sorriso para mostrar o destino.
Um poeta tem que salvar vidas, através da sua elegia ou da sua pornografia.
Tem que adorar o nada e o tudo.
Deve ser o próprio silêncio e ter em si todas as palavras.
Um poeta deve cortar os pulsos com flores e sobreviver com pedras.
Tem que andar no ritmo das correntezas dos rios e se escaldar nas areias como as ondas.
Deve saber observar o belo e entender o torpe.
Um poeta deve ver além do verde e do azul, tem que ver o cinza que há por trás de tudo.
Deve enxergar com as mãos e o coração e sentir com os olhos e abraçar com a alma.
Um poeta deve ter em si a eternidade e jamais ostentá-la.
Deve acariciar e bater com as suas palavras.
E deve ferir com o seu silêncio.
Um poeta deve saber chorar compulsivamente ao ver o sonho do outro quebrado, e gritar silenciosamente quando o seu sonho for derrubado.
Tem que transbordar os olhos de lágrimas, todos os dias, ao ler um poema, e alegrar-se profundamente ao nascer de qualquer semente.
Um poeta deve ferir-se com a insensibilidade e vangloriar-se com as raridades sensíveis.
Deve sentir os antepassados nos bosques e praças, e respeitar os seus espíritos.
Um poeta deve ver o sol nascer e nesse momento matar sua soberba.
Deve ver o sol se pôr e aguar o orgulho de si mesmo.
Um poeta tem que olhar nos olhos. Olhar simplesmente nos olhos; nem mais para baixo, nem mais para cima.
Deve proteger os apaixonados, mesmo aqueles enganados.
Um poeta tem que admirar os rituais e jamais julgá-lo.
Não precisa dançar o compasso da vida, mas deve entendê-lo.
Um poeta tem que saber que, as crianças e os velhos sabem mais que as suas rimas.
Deve gargalhar dos ecos.
Esbravejar das injustiças.
Um poeta tem que ser divinamente humano.
Compreender o divino, sentindo o humano.
Um poeta deve saber que não sabe. E ter consciência que entende.
Deve ser louco para que os deuses o proteja.
E deve ser lúcido para que o Deus o respeite.
Deve ter brilho no olhar e uma cor opaca nos lábios.
Dedos das mãos alongados e pés firmes.
E o poeta deve esquecer todas essas regras e ser simplesmente poeta.
Daniella Paula
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Cóleras pungentes no fim de um amor carmim
Sinto pela ausência... Saudade dos fragmentados e dos fragmentos desse "pequenino" universo.
Eis aqui, um fragmento de um fim. Espero que sintam...
Eu sabia. Sempre soube do fato insano que era te perder. Arrisquei, paguei o preço e vi. Vi você saindo de mim, como as ondas saem do mar para se escaldar na areia.
Você foi abrindo devagar a porta, para que eu não percebesse que estava sendo aniquilada, até que abriu tudo, deixou-a escancarada e saiu correndo para que não desse tempo de te puxar pelos braços.
Eu fiquei aqui, nesse quarto vermelho carmim, que você quis colorir enquanto brincava de fazer amor em mim.
Vivemos aquela batalha do amor, que ora nos aconchega em Glória e ora nos bombardeia em dores.
O que eu acho nefasto é o fato de você fingir até os últimos momentos de olhares entrelaçados, uma paixão. Poderia ter pedido perdão e saído ilesa das cinzas que ainda queimam, devidamente, pelas brasas de outrora.
Você disse que o amor chegou ao fim. Na verdade, o fim se desaguou em amor; o seu fim, no meu amor. Mas, eu sempre soube que seria assim. O que acontece é que a vida humana quer sempre o prolixo, mesmo diante da sua mais devasta lacuna.
Neste momento eu fumo cigarros de cóleras e bebo gim de mágoas. É a dor latente de quem não consegue controlar a mente, quando esta, demente, se desnorteia em busca de um passado, desejando obstinadamente, que ele venha ao presente. Bobagens de gente!
Olho para a fotografia em preto em branco, na moldura feita por você, que dizia ser o retrato mais pitoresco de amor. Dentes expostos na imagem, olhares cúmplices e horizontes de sonhos. Como seria a nossa fotografia de agora?
Sangue ordinário espalhado pelos cantos dolorosos de nossos olhos.
Não quero que volte, mesmo amando-te loucamente (l-o-u-c-a-m-e-n-t-e), prefiro que vá sobrepor seus órgãos quentes sobre os corpos que te ardam, que fique aqui, remoendo e fingindo caminhos para uma paixão falida.
Deixe-me no meu ermo desse quarto a luz néon, logo passará essa revelação anômala de dores em partes que eu nem imaginava que existia.
É fato que o seu ato, me cortará a alma por longos dias, se acaso suportar o ocioso desejo de desprendimento da vida; mas, assim que perpassar a penosa aflição do espírito que foi esfaqueado pelo o abandono, e do corpo rejeitado pelo o calor de outro corpo, a existência me voltará a ser chiste. E quem sabe me dê um outro amor e feche a porta.
Enquanto isso, eu vejo a gaivota, sobrevoando livre na sua condição de não amar. O amor prende e a solidão e a falta nos rende.
Esperarei passar essas horas que ainda se sente o perfume, a presença, a esquivança na retina da esperança, o estar não sóbrio para recuperar-se. Até a vida vir e me der um outro amor carmim. Talvez para me ferir, vale se for para me fazer existir.
Eis aqui, um fragmento de um fim. Espero que sintam...
Eu sabia. Sempre soube do fato insano que era te perder. Arrisquei, paguei o preço e vi. Vi você saindo de mim, como as ondas saem do mar para se escaldar na areia.
Você foi abrindo devagar a porta, para que eu não percebesse que estava sendo aniquilada, até que abriu tudo, deixou-a escancarada e saiu correndo para que não desse tempo de te puxar pelos braços.
Eu fiquei aqui, nesse quarto vermelho carmim, que você quis colorir enquanto brincava de fazer amor em mim.
Vivemos aquela batalha do amor, que ora nos aconchega em Glória e ora nos bombardeia em dores.
O que eu acho nefasto é o fato de você fingir até os últimos momentos de olhares entrelaçados, uma paixão. Poderia ter pedido perdão e saído ilesa das cinzas que ainda queimam, devidamente, pelas brasas de outrora.
Você disse que o amor chegou ao fim. Na verdade, o fim se desaguou em amor; o seu fim, no meu amor. Mas, eu sempre soube que seria assim. O que acontece é que a vida humana quer sempre o prolixo, mesmo diante da sua mais devasta lacuna.
Neste momento eu fumo cigarros de cóleras e bebo gim de mágoas. É a dor latente de quem não consegue controlar a mente, quando esta, demente, se desnorteia em busca de um passado, desejando obstinadamente, que ele venha ao presente. Bobagens de gente!
Olho para a fotografia em preto em branco, na moldura feita por você, que dizia ser o retrato mais pitoresco de amor. Dentes expostos na imagem, olhares cúmplices e horizontes de sonhos. Como seria a nossa fotografia de agora?
Sangue ordinário espalhado pelos cantos dolorosos de nossos olhos.
Não quero que volte, mesmo amando-te loucamente (l-o-u-c-a-m-e-n-t-e), prefiro que vá sobrepor seus órgãos quentes sobre os corpos que te ardam, que fique aqui, remoendo e fingindo caminhos para uma paixão falida.
Deixe-me no meu ermo desse quarto a luz néon, logo passará essa revelação anômala de dores em partes que eu nem imaginava que existia.
É fato que o seu ato, me cortará a alma por longos dias, se acaso suportar o ocioso desejo de desprendimento da vida; mas, assim que perpassar a penosa aflição do espírito que foi esfaqueado pelo o abandono, e do corpo rejeitado pelo o calor de outro corpo, a existência me voltará a ser chiste. E quem sabe me dê um outro amor e feche a porta.
Enquanto isso, eu vejo a gaivota, sobrevoando livre na sua condição de não amar. O amor prende e a solidão e a falta nos rende.
Esperarei passar essas horas que ainda se sente o perfume, a presença, a esquivança na retina da esperança, o estar não sóbrio para recuperar-se. Até a vida vir e me der um outro amor carmim. Talvez para me ferir, vale se for para me fazer existir.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
"Amo-te"
Amo-te a cada batida das ondas nas areias
Amo-te em cada novo orvalho pela manhã
Amo-te em todas as fases da lua
E toda lua sem fase.
Amo-te no poço escuro d’minha alma
Assim como te amo em cada brilhar dos meus olhos
Amo-te nas coisas lindas que tenho pra falar
Amo-te nas horas vazias que não há o que citar
Eu te amo no inevitável dos sentimentos
Nas faltas de razões
E nas súbitas emoções
Amo-te quando te tenho em meus braços
Amo-te quando estás distante dos meus olhos
Eu te amo em todos descolares dos cílios
E em todos os colorares de conchas
Na falta de palavras
No oco do silêncio
No talambor do seu coração
Nos trágicos e frágeis momentos.
Amo-te no lilás das nossas violetas
Amo-te nas cinzas das nossas imperfeitas...
Imperfeitas conjecturas do amor.
Amo-te quando os pássaros levantam vôo
E quando as borboletas saem do casulo.
Amo-te no seu ovário, nas suas pernas, nos seus seios, no seu óvulo...
Nas suas coisas de mulher.
Amo-te porque te faltam coisas de mulher
Amo-te porque tu amas a mulher.
E eu mais te amo, porque sou essa a sua coisa que te falta.
E se pecamos porque nos amamos que não haja explicação para esse amor sem tamanho.
Amo-te em cada novo orvalho pela manhã
Amo-te em todas as fases da lua
E toda lua sem fase.
Amo-te no poço escuro d’minha alma
Assim como te amo em cada brilhar dos meus olhos
Amo-te nas coisas lindas que tenho pra falar
Amo-te nas horas vazias que não há o que citar
Eu te amo no inevitável dos sentimentos
Nas faltas de razões
E nas súbitas emoções
Amo-te quando te tenho em meus braços
Amo-te quando estás distante dos meus olhos
Eu te amo em todos descolares dos cílios
E em todos os colorares de conchas
Na falta de palavras
No oco do silêncio
No talambor do seu coração
Nos trágicos e frágeis momentos.
Amo-te no lilás das nossas violetas
Amo-te nas cinzas das nossas imperfeitas...
Imperfeitas conjecturas do amor.
Amo-te quando os pássaros levantam vôo
E quando as borboletas saem do casulo.
Amo-te no seu ovário, nas suas pernas, nos seus seios, no seu óvulo...
Nas suas coisas de mulher.
Amo-te porque te faltam coisas de mulher
Amo-te porque tu amas a mulher.
E eu mais te amo, porque sou essa a sua coisa que te falta.
E se pecamos porque nos amamos que não haja explicação para esse amor sem tamanho.
Daniella Paula
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
A Separação
Não, não precisa me enganar,
Inventar essas coisas banais, sem vida, sem anais,
Para consolar o meu peito sem leito.
Pode retirar suas palavras do meu ouvido
Quebrar o mundo fingido.
Pode limpar com navalha o seu perfume dos meus poros.
Pode apagar sua imagem dos meus olhos.
Vá, corra para não perder o trem que a levará para os raios de sol, após tanto tempo vendo a lua. Mas, pegue seu cachecol, para onde vai, não poderá andar nua.
Não se esqueça de pegar seus cálculos e devolver meus autos.
Pode ficar com o “Auto da barca do inferno”, Gil Vicente lhe mostrará o inverno.
Deixe o “Auto da Compadecida”, Suassuna entende a minha vida.
Leve seus discos de Nirvana.
Devolva os meus da Bethânia.
Você precisará da sua auto-ajuda,
Eu quero só o Neruda.
Leve os cálices de cristais, isso é o de menos.
Eu só preciso dos vinhos chilenos.
Fume longe desses quartos os seus cigarros,
Que eu juro, que esquecerei os seus pigarros.
Retire todos os seus pêlos do meu corpo.
E todas as lembranças da retina das minhas esperanças.
Não precisa mais esperar,
Abandone aqui quem só te fez adorar.
Não vou te segurar.
Vá, e se afogue no mar,
Que você construiu, enquanto fingia me amar.
Daniella Paula
Escultura: Rodin - " O fugitivo do amor"
Inventar essas coisas banais, sem vida, sem anais,
Para consolar o meu peito sem leito.
Pode retirar suas palavras do meu ouvido
Quebrar o mundo fingido.
Pode limpar com navalha o seu perfume dos meus poros.
Pode apagar sua imagem dos meus olhos.
Vá, corra para não perder o trem que a levará para os raios de sol, após tanto tempo vendo a lua. Mas, pegue seu cachecol, para onde vai, não poderá andar nua.
Não se esqueça de pegar seus cálculos e devolver meus autos.
Pode ficar com o “Auto da barca do inferno”, Gil Vicente lhe mostrará o inverno.
Deixe o “Auto da Compadecida”, Suassuna entende a minha vida.
Leve seus discos de Nirvana.
Devolva os meus da Bethânia.
Você precisará da sua auto-ajuda,
Eu quero só o Neruda.
Leve os cálices de cristais, isso é o de menos.
Eu só preciso dos vinhos chilenos.
Fume longe desses quartos os seus cigarros,
Que eu juro, que esquecerei os seus pigarros.
Retire todos os seus pêlos do meu corpo.
E todas as lembranças da retina das minhas esperanças.
Não precisa mais esperar,
Abandone aqui quem só te fez adorar.
Não vou te segurar.
Vá, e se afogue no mar,
Que você construiu, enquanto fingia me amar.
Daniella Paula
Escultura: Rodin - " O fugitivo do amor"
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